O Barroco foi um período artístico que ocorreu inicialmente na Itália, do séc. XVII ao XIII. E se expandiu para outros países europeus. Era uma resposta artística da Reforma Protestante, que tinha feito com que muitos fiéis saíssem da Igreja. Na tentativa de recuperar os fiéis, a Igreja pregava através da pintura, da música, da arquitetura e da literatura.
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No quadro “Flagelação de Cristo”, Caravaggio deixa o corpo de Jesus iluminado e os outros homens no escuro. Ele quer representar que só perto da Igreja há salvação e fora dela só há trevas.
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Panorama histórico
A Europa estava vivendo um
período marcado pelo mercantilismo,
colonialismo e Reforma Protestante. Martinho Lutero e suas 95 teses haviam abalado
a estabilidade da Igreja. Lutero questionava a Igreja e interpretava a Bíblia
do seu jeito.
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Teses de Martinho Lutero |
Com a Reforma Protestante, ele acabou criando indiretamente outras
igrejas. Em resposta, a Igreja Católica acionou a Contrarreforma, usando a arte
para recuperar os fiéis.
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O Juízo Final, de Michelângelo (Capela Sistina)
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Estilo Artístico
O Barroco significa “pérola
irregular”, que está sempre em busca da perfeição. Tudo é muito ordenado,
decorado, perfeito. Às vezes até exagerado. Na arquitetura, há o uso de vários
detalhes, imagens de santos e anjos (fig. 1), muito ouro e colunas e arcos.
(fig. 2) O teto fica bem distante do chão, para dar a impressão de somos
minúsculos ao poder de Deus. Também em algumas igrejas há afrescos, pinturas
feitas na parede (fig. 3).
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Igreja de Santa Nevada |
Teto da Capela Sistina |
Na pintura, os detalhes são valorizados, usa-se do efeito
luz e sombra para o contraste. Este contraste na arte barroca representa os
conflitos e a instabilidade humanos. O homem que vivia durante o Barroco estava
entre o paganismo renascentista e a restauração da fé exigida pela Igreja
Católica. Estava entre o prazer da alma e submissão a Deus.
Esta contradição também está presente na forma de Cultismo, usando as
palavras sofisticadas e figuras de
linguagem para representar esse turbilhão de pensamentos opostos. O Cultismo
era o “jogo de palavras”, que usava o formal e muitas figuras de linguagem.
Também era marcado pelo sensorial, ou seja, pelo que sentia a pessoa que
apreciasse a obra barroca.
Em amarelo,
a figura de linguagem chamada antítese.
Ex.: Poema de Gregório de Matos
Ardor em
firme coração nascido!
Pranto por
belos olhos derramados!
Incêndio em mares de água disfarçado!
Rio de neve em fogo
convertido!
Tu, que em
um peito abrasas escondido:
Tu, que em
um rosto corres desatado,
Quando fogo
em cristais aprisionado,
Quando
cristal em chamas derretido.
Se és fogo como passas brandamente?
Se és neve, como queimas
com porfia?
Mas ai, que
andou Amor em ti prudente.
Pois para
temperar a tirania,
Como quis, que aqui fosse a neve
ardente,
Permitiu parecesse a chama
fria.
(In: Luiz Roncari. Literatura brasileira – Dos primeiros
cronistas aos últimos românticos. 2. Ed. São Paulo: Edusp, 1995. p. 129)
Ex.2:
Música:
Ave Maria de Bach
Summer de Vivaldi
Outra corrente do barroco foi o Conceptismo. Era
o “jogo de ideias”, que tenta convencer pelo raciocínio, pensamento lógico, por
analogias e histórias ilustrativas. Um autor adepto do Conceptismo era o padre
Antônio Vieira. Ele propunha argumentações claras e diretas, tentando trazer á
Igreja os fiéis que foram para a igreja protestante.
Sermão da Sexagésima
Uma árvore tem raízes, tem
troncos, tem folhas, tem varas, tem flores, tem frutos. Assim há de ser o
sermão: há de ter raízes fortes, e sólidas, porque há de ser fundado no
Evangelho; há de ter tronco, porque há de ter um só assunto e tratar de uma só
matéria. Deste tronco hão de nascer diversos ramos, que são diversos discursos,
mas nascidos da mesma matéria e continuados nela. Estes ramos não hão de ser
secos, senão cobertos de folhas, porque os discursos hão de ser ornados de
palavras. Há de ter esta árvore varas, que são a representação dos vícios; há
de ter flores, que são as sentenças; e por remate de tudo isto há de ter frutos
há de haver flores, há de haver varas, há de haver folhas, há de haver ramos;
mas tudo nascido e fundado em um só tronco, que é uma só matéria. Se tudo são
troncos, não é um sermão, é matéria. Se tudo são ramos, não é um sermão, são
maravalhas. Se tudo são folhas, não é sermão, são verças. Se tudo são varas,
não é um sermão, é um feixe. Se tudo são flores, não é um sermão, é um ramalhete.
Serem tudo frutos, não pode ser, porque não há frutos sem árvore. ...Eis aqui
como hão de ser os sermões; eis aqui como não são. E Assim não é muito que se
faça fruto com ele..
Barroco em Portugal
Após o triunfo e a glória vividos com
as navegações portuguesas, Portugal viveu uma crise de identidade. Morreu
Camões e desapareceu na guerra o rei D. Sebastião. O país estava sobre o
domínio político da Espanha.
Com a influência da
Contrarreforma, Portugal teve um barroco mais religioso, com produção de
cartas, sermões, prosas e poesias.
(imagem de uma igreja barroca em
Portugal)
O principal autor da literatura
barroca portuguesa (e também brasileira) foi o padre Antônio Viera. Ele veio
com a família para o Brasil quando tinha 7 anos, atuou como jesuíta e aqui escreveu
parte de seus sermões. Os seus textos não eram somente religiosos, atuando
também na área da política. Ele pregou para várias pessoas, usando seu talento
para convencer e emocionar.
Sermão da sexagésima
Naquele dia, saiu Jesus e
sentou-se à beira do lago. Acercou-se dele, porém, uma tal multidão, que precisou
entrar numa barca. Nela se assentou, enquanto a multidão ficava à margem. E
seus discursos foram uma série de parábolas. Disse ele: Um semeador saiu a
semear. E, semeando, parte da semente caiu ao longo do caminho; os pássaros
vieram e a comeram. Outra parte caiu em solo pedregoso, onde não havia muita
terra, e nasceu logo, porque a terra era pouco profunda. Logo, porém, que o sol
nasceu, queimou-se, por falta de raízes. Outras sementes caíram entre os
espinhos: os espinhos cresceram e as sufocaram. Outras, enfim, caíram em terra
boa: deram frutos, cem por um, sessenta por um, trinta por um...
... Ouvi, pois, o sentido da
parábola do semeador: quando um homem ouve a palavra do Reino e não a entende,
o Maligno vem e arranca o que foi semeado no seu coração. Este é aquele que
recebeu a semente à beira do caminho. O solo pedregoso em que ela caiu é aquele
que acolhe com alegria a palavra ouvida, mas não tem raízes, é inconstante:
sobrevindo uma tribulação ou uma perseguição por causa da palavra, logo encontra
uma ocasião de queda. terreno que recebeu a semente entre os espinhos
representa aquele que ouviu bem a palavra, mas nele os cuidados do mundo e a
sedução das riquezas a sufocam e a tornam infrutuosa. A terra boa semeada é
aquele que ouve a palavra e a compreende, e produz fruto: cem por um, sessenta
por um, trinta por um.
Além de sermões, Vieira escreveu
livros proféticos, como História do futuro, Esperanças de Portugal e
Clavis prophetarum. Em Esperanças de Portugal, ele dizia que o seu
protetor o rei. D. João IV ressuscitaria. Por causa dessa ideia, o padre chegou
a ser preso e processado pela Inquisição.
As principais prosas de Vieira
foram:
Sermão da sexagésima, no
qual ele descreve como deve ser um sermão;
Sermão do mandato, em que é
descrito o amor místico;
Sermão de Santo Antônio, em
que se ataca a escravização dos índios.
Resumo sobre Barroco e Padre Antônio Vieira
Barroco no Brasil
No Brasil, o Barroco se desenvolveu entre 1720 e 1750, no
cenário da exploração de cana-de-açúcar, e poucas pessoas sabiam ler e
escrever. Mas os ricos que estudaram em Portugal e moravam no Brasil deram
origem à literatura brasileira, com o marco da publicação do poema épico Prosopopeia,
de Bento Teixeira.
O principal escritor do barroco brasileiro é Gregório de
Matos. Atribui-se à ele a fundação da poesia lírica e da satírica. Gregório
nasceu no Brasil, estudou Direito em Portugal, tornou-se juiz e escreveu os
seus primeiros poemas satíricos. A sua irreverência ao denunciar a imoralidade
dos baianos chegou a custar perseguições e anos de exílio.
Poemas Sátiro de Gregório de Matos
"Que falta nesta cidade? Verdade./ Que mais por sua
desonra? Honra. Falta mais que se lhe ponha? Vergonha./O demo a viver se exponha/
Por mais que a fama a exalta/ Numa cidade onde falta/ Verdade, honra e
vergonha."
“Descrevo que era realmente naquele tempo a cidade da Bahia.
A cada canto um grande conselheiro, que
nos quer governar cabana, e vinha, não
sabem governar sua cozinha, e podem
governar o mundo inteiro. Em cada porta
um freqüentado olheiro, que a vida do
vizinho, e da vizinha pesquisa, escuta,
espreita, e esquadrinha, para a levar à
Praça, e ao Terreiro. Muitos mulatos
desavergonhados, trazidos pelos pés os homens nobres, posta nas palmas toda a picardia. Estupendas usuras nos mercados, todos, os que não furtam, muito pobres, e eis aqui a cidade da Bahia.”
Por não publicar suas obras, há algumas dúvidas de autoria
em relação aos seus poemas.
Inconstância das coisas do mundo!
Nasce o
Sol e não dura mais que um dia,
Depois da
Luz se segue a noite escura,
Em
tristes sombras morre a formosura,
Em
contínuas tritezas e alegria.
Porém, se
acaba o Sol, por que nascia?
Se é tão
formosa a Luz, por que não dura?
Como a
beleza assim se transfigura?
Como o
gosto da pena assim se fia?
Mas no
Sol, e na Luz falta a firmesa,
Na
formosura não se dê constancia,
E na
alegria sinta-se a triteza,
Começa o
mundo enfim pela ignorância,
E tem
qualquer dos bens por natureza.
A firmeza
somente na incostância.
No poema acima, Gregório mostra como as coisas são
passageiras, e que devemos aproveitar a vida. Esta ideia é o Carpe diem,
que era presente no barroco. O Carpe Diem entra em contradição com a
Contrarreforma. Entre o prazer da alma e a submissão à Deus. No Barroco, o
homem pecava em busca dos prazeres e se arrependia, buscando o perdão.
“Pequei, Senhor, mas não porque hei pecado, Da vossa alta
clemência me despido; Porque, quanto mais tenho delinqüido, Vós tenho a perdoar
mais empenhado. Se basta a vos irar tanto pecado, A abrandar-vos sobeja um só
gemido: Que a mesma culpa, que vos há ofendido, Vos tem para o perdão
lisonjeado. Se uma ovelha perdida e já cobrada Glória tal e prazer tão
repentino Vos deu, como afirmais na Sacra História, Eu sou, Senhor, a ovelha
desgarrada, Cobrai-a; e não queirais, Pastor Divino, Perder na vossa ovelha a
vossa glória.” Gregório de Matos.
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