Trovadorismo

É a literatura produzida durante o processo de independência de Portugal, na Idade Média, antes do século XVI.


PERÍODO E PANORAMA HISTÓRICOS

O trovadorismo português surgiu durante a Idade Média, quando a economia era feudal, baseada na agricultura e no plantio para subsistência. Os donos de terras faziam parte da nobreza e os que cuidavam da religião faziam parte do clero.
A religião ocupava um grande espaço na vida das pessoas naquela época. O Teocentrismo (que significa “Deus no centro”) era muito forte. As pessoas viviam para Deus, de tal forma que enriquecer e ser feliz eram“proibidos”. Colocava-se o humano na forma de pecador, que deveria fazer de tudo para não ir para o “inferno”. A Igreja tinha o poder políticoeconômicoartístico, já que toda arte voltava-se para Deus, e ainda, científico, pois descobertas que poderiam levar os fiéis á incredulidade eram censuradas e seus autores, considerados hereges.

CARACTERÍSTICAS LITERÁRIAS

As obras eram geralmente poesia, prosa ou teatro. Na poesia, o texto era cantado e acompanhado de instrumentos. As poesias chamavam-se cantigas, podendo ser cantigas líricas de amor e de amigo, ou satíricas de escárnio e maldizer.
As cantigas líricas tinham como tema o amor e a falta da pessoa amada.

Cantiga de amor
     
Tinha como ambiente o palácio real. Os autores das cantigas eram de boa condição social, porque os poucos que sabiam ler faziam parte da nobreza. Essa cantiga valorizava o amor cortês, em que o homem era sempre servo da mulher, considerada superior. Por isso, em algumas cantigas de amor, o eu-lírico se refere á dama usando o termo “senhor”. O eu-lírico era masculino, e o interlocutor, uma mulher. O amor não era correspondido.
“O nome da mulher amada vem oculto por força das regras de mesura (boa educação extrema) ou para não comprometê-la (geralmente, nas cantigas de amor o eu-lírico é um amante de uma classe social inferior à da dama).
A beleza da dama enlouquece o trovador e a falta de correspondência gera a perda do apetite, a insônia e o tormento de amor. Além disso, a coita amorosa (dor de amor) pode fazer enlouquecer e mesmo matar o enamorado.” (http://www.mundovestibular.com.br/articles/9331/1/Trovadorismo/Paacutegina1.html)

Meus olhos (título adaptado)

Estes meus olhos nunca perderan, / senhor, grancoyta / mentr' eu vivo fôr; / e direy-vos, fremosa mia senhor, / d'estes meus olhos a coyta que an: / choran e cegan, quand' alguen que veen.
Guisado teen de nunca perder / meus olhos coyta e meu coraçon, / e estas coytas, senhos, mias son; / mayslos meus olhos, por alguenveer, / choran e cegan, quand' alguen non veen, e ora cegan por alguen que veen.
E nunca japodereyaverben, / poys que amor já non quer nem quer Deus; / mays os cativos d'estes olhos meus / morrerán e cegan, quand' alguen non veen, e ora cegan por alguen que veen.
(Grancoyta: grande paixão desgosto. / Fremosa mia senhor: minha bela senhora)

Música atual com características de cantiga de amor:https://www.youtube.com/watch?v=lg_afqmeZoE

Cantigas de amigo

São cantigas mais simples que retratam a vida no campo, tendo como tema a saudade que a mulher tem do seu amigo (namorado) que partiu. Nesse caso, os dois tem a mesma condição econômica e o amor era correspondido. Apesar do eu-lírico ser uma mulher, o autor é um homem, já que as mulheres não podiam escrever naquela época. Essas cantigas são caracterizadas por refrãoparalelismo (repetição simétrica de palavras e rimas).

Paráfrase da cantiga “Ondas do mar de vigo”
Ondas do mar de Vigo
Se vires meu namorado!
Por Deus, (digam) se virá cedo!
Ondas do mar revolto,
Se vires o meu namorado!
Por Deus, (digam) se virá cedo!
Se vires meu namorado,
Aquele por quem eu suspiro!
Por Deus, (digam) se virá cedo!
Se vires meu namorado
Por quem tenho grande temor!
Por Deus, (digam) se virá cedo!
 


Cantigas Satíricas

“Gênero satírico: em que o objetivo é criticar alguém, ridicularizando esta pessoa de forma sutil ou grosseira; a este gênero pertencem as cantigas de escárnio e as cantigas de maldizer.
São composições que expressam melhor a psicologia do tempo, onde vêm á tona assuntos que despertam grandes comentários na época, nas relações sociais dos trovadores; são sátiras que atingem a vida social e política da época, sempre num tom de irreverência; são sátiras de grande riqueza, uma vez que se apresentam num considerável vocabulário, observando-se, muitas vezes o uso de trocadilhos; fogem às normas rígidas das cantigas de amor e oferecem novos recursos poéticos.
Os principais temas das cantigas satíricas são: a fuga dos cavaleiros da guerra, traições, as chacotas e deboches, escândalos das amas e tecedeiras, pederastia (homossexualismo) e pedofilia (relações sexuais com crianças), adultério e amores interesseiros e ilícitos.”

Cantigas de Escárnio

Apresentam críticas indiretas, o nome do criticado é omitido, e a cantiga é repleta de sentidos ambíguos e ironia.

Dona Fea
Ai, dona fea, fostes-vos queixar / que vos nunca louv' en [o] meu cantar; / mais ora quero fazer um cantar / en que vos loarei toda via; / e vedes como vos quero loar; / dona fea, velha e sandia!
Dona fea, se Deus me perdon, / pois avedes [a] tangrancoraçon / que vos eu loe, en esta razon / vos quero loar toda via; / e vedes qual será a loaçon / dona fea, velha e sandia!
Dona fea, nunca vos eu loei / en meu trobar, pero muito trobei; / mais ora já unbon cantar farei, / en que vos loarei toda via; / e direi-vos como vos loarei: dona fea, velha e sandia!
(Loarei: louvarei / Sandia: louca / Avedestangrancoraçon: tendes tanto desejo / loaçon: louvor)
Autor: João Garcia de Guilhade

Cantigas de Maldizer

As críticas são bem mais diretas, com a presença de palavras de baixo calão e de grosserias com a intenção de ofender.

Maria Peres

Maria Peres se mãefestou (confessou) / noutro dia, ca por pecador (pois pecadora) / se sentiu, e log' a Nostro Senhor / pormeteu, pelo mal em que andou, / que tevess' um clérig' a seu poder, (um clérigo em seu poder) / polos pecados que lhi faz fazer / o demo, com que x'elasempr'andou. (O demônio, com quem sempre andou)
Mãefestou-se, ca (porque) diz que s'achou / pecador mui't,(muito pecadora) porém, rogador / foi log' a Deus, ca teve por melhor / de guardar a El ca o que a guardou / E mentre (enquanto) viva diz que quer teer / um clérigo, com que se defender / possa do demo, que sempre guardou
E pois (depois) que bem seus pecados catou / de sa mor' ouv (teve) ela gram pavor / e d'esmolnarouv' ela gram sabor (teve grande prazer em esmolar) / E logo entom um clérico filhou (agarrou ) / e deu-lhe a cama em que sol jazer (sozinha dormia) / E diz que o terrámentre (terá enquanto) viver / e esta fará; todo por Deus filhou. (E isso fará, pois tudo aceitou por Deus).
E pois que s'este preito ( pacto) começou, / antr'eles ambos ouve grand'amor. / Antr'el (entre) á sempr'o demo maior / atá que se Balteira confessou. / Mais pois que viu o clérigo caer, / antre'eles ambos ouv'i (teve nisso) a perder / o demo, dês que (desde que) s'ela confessou.

Prosa e novelas de cavalaria

"A prosa medieval retrata com mais detalhes o ambiente histórico-social desta época. A temática das novelas medievais está ligada à vida dos cavaleiros medievais e também à religião.
A Demanda do Santo Graal é a novela mais importante para a literatura portuguesa. Ela retrata as aventuras dos cavaleiros do Rei Artur em busca do cálice sagrado (Santo Graal). Este cálice conteria o sangue recolhido por José de Arimatéia, quando Cristo estava crucificado. Esta busca (demanda) é repleta de simbolismo religioso, e o valoroso cavaleiro Galaaz consegue o cálice."

PRINCIPAIS OBRAS E AUTORES

O mais famoso trovador foi o rei D. Dinis, com uma coleção de 140 cantigas líricas e satíricas aproximadamente. A sua principal obra foi a cantiga Ai flores do verde pino!  . Outro importante trovador foi Martim Codax, com a obra “Ondas do mar de Vigo”. Outros autores como Paio Soares de Taveirós, João Garcia de Guilhade (autor de “Dona Fea”)  e João Soares Paiva também se destacaram.

Obra principal

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